Poeta, romancista, comediógrafo e conferencista, sem dúvida, o mais importante escritor da época vitoriana, Oscar Figal O'Flahertie Wills, nasceu em Dublin (Irlanda), em 16 de outubro de 1854 e faleceu (depois de converter-se in extremis à religião católica, em 30 de novembro de 1900) de meningite encefálica (tornado ainda mais grave pela sífilis e o álcool), após sofrimento de quase dois meses, no humilde hotel d'Alsace, situado no barrio de Saint-German-des- Prés, em Paris. Wilde ali se hospedara com o nome de Sebastían Melmoth, numa inútil tentativa de esconder a verdadeira identidade, enxovalhada após o escandaloso processo a que fora submetido no tribunal inglês, o mais célebre julgamento da história contra um homossexual.
O enterro, classificado por um dos presentes como de sexta classe, ocorreu no cemitério Bagneux, na periferia de Paris. Não mais de 14 pessoas presenciaram a descida do ordinário caixão. Ali o corpo do poeta permaneceu até 1909, quando foi transladado para o famoso Père Lachaise.
Perverso/Pervertido - Seu pai era eminente médico e literato de fino gosto; sua mãe, poeta e jornalista. Ainda muito jovem, com dez anos de idade, Wilde já demonstrava um temperamento diferente. Amava a solidão, detestava os exercícios físicos, encontrava grande prazer na leitura dos clássicos gregos e na poesia.
Adepto fervoroso da "arte pela arte" (concepção artística que recusa o engajamento do escritor), tornou-se rapidamente líder dessa corrente. Herdeiro de Keats (1795-1821) e de Pater (1839-1894), inspirou-se, mesmo em sua fase mundana em Huysmans. Em Paris, deixou-se atrair por Verlaine (1844-1896) e pelo Simbolismo. Ao retornar à Inglaterra escreveu contos: Príncipe Feliz (1888); O Crime de Lorde Arthur Savile e outras histórias (1891); Os Ensaios (Intenção - 1891) precedem seu único romance, O Retrato de Dorian Gray.
Após A duquesa de Pádua (1891) e A alma do homem sob o Socialismo, afirmou-se como um dos grandes autores dramáticos da época; O Leque de Lady Windermese (1892); Uma mulher sem importância (1893); A importância de ser prudente (1895).
Em 1893, Salomé, peça escrita em francês, foi montada em Paris por Sarah Bernhardt, a tradução para o inglês foi realizada por lorde Alfred Douglas (1870-1945), com que mantinha uma ligação homossexual desde 1891, teve proibição na Inglaterra, quando seria representada em junho, no Palace Theatre de Londres. A peça retrata a obstinação da princesa da Judéia em pedir ao padrasto a cabeça de João Batista como presente. Na versão de Wilde a frieza de Salomé é apenas o véu que encobre os dois sentimentos que mais se assemelham dentre todos: o amor e o ódio.
Em Londres, ao lado de Douglas. começam juntos a freqüentar assiduamente todos os pontos de encontro da cidade elegante, desafiando ostensivamente os mexericos e o escândalo. Podiam ser vistos particularmente, no Café Royal onde, numa mesinha discreta, passavam as noites bebendo champanha.
Violentamente atacado pelo pai do seu amigo e namorado, Wilde moveu contra ele um processo de difamação (1895), que acabou perdendo. Condenado, passou uma parte dos dois anos de trabalhos forçados na prisão de Reading. Da prisão escreveu ao companheiro Douglas, uma longa carta conhecida como De Profundis, acusando-o de ter sido a causa da sua ruína. A epístola saiu de forma expurgada em 1905 e o texto integral só foi difundido em 1929. Libertado, partiu para a França, onde viveu na mais completa miséria. Após sua morte foi publicado em 1901, Aforismos.
O Retrato de Dorian Gray - Único romance de Oscar Wilde, surgiu na época em que o escritor conheceu a glória literária. Seu nome aparecera, antes em contos, histórias, comédias e outros gêneros apreciados por adultos e crianças. A idéia lhe surgiu num dia de primavera, no momento em que o escritor visitava seu amigo, o pintor Basil Hallward, quando este se encontrava empolgado pela pintura do retrato de um jovem de extraordinária beleza. Enquanto o amigo pintava, Wilde conversava com o pintor e admirava o retrato e o original: Dorian Gray, um jovem cujo belo rosto irradiava alegria, pureza e bondade, como se o mundo não o tivesse tocado ainda com suas maldades, seus sofrimentos.
O romance é a história de um homem cuja vida se resumiu na procura da felicidade. Era dotado de uma beleza rara e cativante, que lhe dava uma aparência perfeitamente inocente; mas ele, ao contrário disso, era guiado por forças estranhas para uma busca incessante de prazeres, lançando mão de todos os recursos, justos ou não, racionais ou irracionais, sadios ou mórbidos.
Precedido de um prefácio no qual o autor expõe sua teoria da arte. As marcas da velhice não afetam o belo Dorian Gray e sim seu retrato, até o dia em que o eterno jovem dilacera o quadro e morre ao mesmo lance, homem e obra trocando suas marcas. Portanto, é a evocação de uma amizade masculina que reitera a teoria das máscaras: só as máscaras dizem a verdade, a natureza imita a arte. Wilde, revela toda a sua antipatia pela mediocridade com que a arte era tratada e diz que "não existe livro moral nem imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo"; ou "O artista é criador de coisas belas. Não há artista doentio. O artista pode exprimir tudo".
O Retrato de Dorian Gray, lhe deu oportunidade de colocar nos lábios e nos seus sentimentos dos personagens todas as coisas que ele próprio gostaria de dizer sobre a sociedade do seu tempo. Neste romance, Oscar Wilde não retratou apenas o jovem Gray, mas penetrou fundo na alma humana e fotografou seus abismos: suas paixões, seu cinismo, suas hipocrisias, seus sonhos. O Retrato de Dorian Gray é um dos maiores romance, não só da literatura inglesa, mas da própria literatura universal.
Houve quem afirmasse que a sua maior obra foi a sua vida, cheia de ironia e verve: Uma verdadeira tragédia em cinco atos. O primeiro foi o tempo de sua adolescência solitária, passada nos colégios onde, apesar do temperamento, sempre conseguia as melhores distinções. Depois, a fase de juventude, agitada pelos protestos contra o mau gosto e a mediocridade nos domínios da arte; o casamento com Constance Lloyde, a residência em Londres, os filhos que trocaram o nome Wilde por Holland, após a tragédia na vida do pai.
O terceiro ato se passa em Londres: sua glória literária. Aparecem O Retrato de Dorian Gray, a tragédia Salomé e as comédias, Um Marido Ideal, A Esfinge e outras. Os dois últimos atos da tragédia, são o processo e a condenação, por pederastia, considerado na Inglaterra vitoriana crime. Sua vida considerada imoral, seus livros proibidos. Tornou-se um maldito. Mas ainda deixou dois documentos de extraordinária força e beleza, escritos após a condenação: De Profundis e Balada do Cárcere de Reading.
Em 1903, estudando humoristas e pré-rafaelistas com Gladys Fox, João do Rio (João Paulo Emílio Cristovão dos Santos Coelho Barreto, 1880-1921), descobre Oscar Wilde. Deslumbrado, encomenda, em seguida, suas obras ao livreiro Crashley. Condenadas, elas se tornaram raras e caras: mais cara quanto mais rara. João do Rio, traduziu e difundiu a obra de Oscar Wilde no Brasil: Salomé; Intenção, O Retrato de Dorian Gray e O Leque de Lady Windermese.
João do Rio foi um dos primeiros escritores brasileiros, a publicar artigos sobre Wilde, no número de abril de 1905 na revista A Renascença, sob o título Breviário do Artificialismo. Talvez, a partir daí a voga do wildianismo, que popularizou no Brasil em virtude das traduções para o francês dos seus livros, teve entre nós seu representante divulgador, na pessoa do jornalista João do Rio.
Para as comemorações do centenário de sua morte, recentemente foram publicados cinco dos seus livros mais importantes: O Retrato de Dorian Gray, Editora Civilização Brasileira; Aforismos ou Mensagens Eternas, Editora Landy; O Melhor de Oscar Wilde, Editora Garamond; O Álbum de Wilde, organizado por Merlin Holland e A Esfinge e seus Segredos, ambos pela Editora Record. Já quem preferir comprar um volume com o principal da obra do autor, pode adquirir a Obra Completa, editada pela Nova Aguilar.
Fonte: Por trás das Letras
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